Vigil e um pouco da história de Mendoza

 São poucas as oportunidades para se conhecer enólogos. Por sorte, tenho topado com o argentino Alejandro Vigil (= diretor de enologia de Catena) algumas vezes e sempre saio com alguma história ou curiosidade sobre o universo do vinho. Quem já o conhece sabe que formalidade não é seu forte; e isto é bom. Nada mais tedioso que um enólogo falando dos testes laboratoriais do vinho, a floresta de procedência do carvalho utilizado nas barricas ou (a minha “favorita”!) a capacidade da linha de engarrafamento e máquina de rotulagem. Na mais recente oportunidade, ao jantar com Vigil, tive a chance de provar o primeiro vinho que assinou em Catena, o principal rótulo da vinícola, Nicolas Catena Zapata 2001. “Lembro que havia recém chegado à Catena e para se elaborar o Catena Zapata a equipe de enologia produzia algumas mesclas do que poderia se tornar este vinho. Um comitê com o sr. Nicolás Catena, Pepe Galante e eu provávamos os vinhos às cegas para escolher qual seria a mescla daquele ano. Foi uma boa surpresa saber que a mescla que fiz foi a escolhida para ser o Catena Zapata de 2001”. Voltando para 2013, o vinho permanece vivo, com notas de evolução (couro) e amaciado pelo tempo. Seria poético dizer que lembra um vinho do Velho Mundo e blábláblá... mas o vinho tem sim a potência, fruta, intensidade do Novo Mundo e soube evoluir nestes 12 anos com esta personalidade - não há nenhum demérito nisto e não haveria nenhum mérito a mais se eventualmente lembrasse algum europeu. Outro momento que vale registro foi quando explicou o porquê de ter abolido a mesa seletora na recepção das uvas (umas cintas de borracha por onde passam as uvas quando chegam na adega. Em volta delas ficam pessoas selecionando os cachos que estão em boas condições). “Comecei a notar que na 1a. hora todos trabalham bem, na 2a. hora selecionam com metade do rigor e na terceira hora passa qualquer coisa! Hoje faço a seleção no vinhedo. O que está bom será vinificado e o que não está fica por lá mesmo.” (a mesma filosofia que vimos em Clos des Papes, em Châteauneuf-du-Pape, com Paul Avril. Então, moderno ou clássico?


Por fim, um episódio “curioso” sobre a história dos vinhos de Mendoza. Ao falar do potencial do vinhedo de La Consulta, lembrou que há muito tempo as vinhas velhas da região eram bem reputadas. “Há muito tempo, existia um corte de vinho chamado de Buenos Aires. Era uma mescla de 10 “vagões” de vinho tinto de qualidade, produzido com as uvas de La Consulta (um blend de malbec e outras viníferas), 85 “vagões” de vinho feito com a uva Criolla (vinho simples) e 5 “vagões” de água.” Como dizem, a história está aí para vermos os acertos e os erros.


Postado por Marcel Miwa.

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